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     Araneae (grego: arachne; "aranha") é uma ordem de artrópodes da classe Arachnida que inclui as espécies conhecidas pelos nomes comuns de aranhas ou aracnídeos. Tem distribuição natural em todos os continentes (com excepção da Antártida) e ocorrência em praticamente todos os tipos de habitats terrestres. Apresentam oito pernas e maioritariamente quelíceras que injetam veneno, diferenciando-se anatomicamente dos restantes artrópodes por um plano corporal (tagmose) caracterizado por dois tagmas, o cefalotórax e o abdómen, unidos por uma estrutura pequena e cilíndrica, o pedicelo. Ao contrário dos insectos, as aranhas não apresentam antenas e possuem um sistema nervoso bem desenvolvido e centralizado, o mais centralizado de entre os artrópodes.                   Produzem teias com grande variabilidade morfológica e de tamanho utilizando seda das aranhas, uma estrutura de base proteica que combina leveza, força e grande elasticidade, sendo em alguns destes aspectos superior aos melhores materiais sintéticos.

   Há duas subordens: (1) Opisthothelae, a mais diversa e abundante, que agrupa os taxa Mygalomorphae (as caranguejeiras) e Araneomorphae (as aranhas modernas); e (2) Mesothelae, que inclui apenas a família Liphistiidae, constituída por aranhas asiáticas raramente avistadas. Estima-se que existam cerca de 40 000 espécies de aranhas, presentemente divididas em mais de 100 famílias, o que faz deste taxon a segunda maior ordem dos aracnídeos, apenas ultrapassada em diversidade pela ordem Acari (os ácaros).

     A espécie de aranha mais corpulenta é a Theraphosa blondi (Latreille, 1804), que chega a medir até 20 cm envergadura, e a menor é a Patu digua (Forster & Platnick, 1977), nativa da Colômbia, que tem o tamanho da cabeça de um alfinete.

    As aranhas são referência frequente na arte e mitologia, simbolizando paciência, crueldade e criatividade. A seda e os compostos químicos presentes no veneno das aranhas são considerados como potenciais fontes de matéria prima para aplicações nanotecnológicas e outros usos no campo da engenharia dos materiais e para a preparação de medicamentos e biopesticidas. Apesar da elevada prevalência da aracnofobia, apenas a picada de cerca de 30 espécies das mais de 40 000 existentes é considerada perigosa para os humanos.

   As aranhas pertencem ao filo Arthropoda e ao subfilo Chelicerata. Sendo artrópodes, possuem o corpo segmentado, com membros articulados, cobertos com uma cutícula de quitina e proteínas, e região cefálica composta por vários elementos que se fundem durante a fase embrionária.

    O corpo das aranhas é formado por dois tagmas: um deles, denominado cefalotórax ou prossoma (nos insectos este segmento encontra-se separado em mais dois tagmas - cabeça e tórax); e o outro chamado opistossoma ou abdómen. Estes dois segmentos são ligados por uma pequena secção cilíndrica, o pedicelo. Este pequeno pedicelo cilíndrico que une os tagmas permite que o abdómen se mova livremente enquanto produz seda para a construção de teias.

     A zona superior (dorsal) do cefalotórax é coberta por uma única carapaça convexa, enquanto a parte inferior (ventral) é coberta por duas placas planas, o esterno e o lábio. Apesar de não segmentada, a carapaça possui um sulco cervical, a fóvea torácica, que delimita a fronteira entre a porção da cabeça e a do tórax. Esta reentrância estende-se até ao interior da carapaça, formando uma espécie de cone cuticular que serve de ponto de inserção aos músculos dorsais do estômago.

     O padrão de fusão dos segmentos para formar a cabeça dos quelicerados é único entre os artrópodes. Estudos do desenvolvimento embrionário indicam que o prossoma é formado pela fusão de seis segmentos. O que normalmente seria o primeiro segmento da cabeça desaparece numa fase inicial do desenvolvimento, por isso a falta de antenas, típicas da maioria dos grupos de artrópodes.

    A cabeça abriga os olhos, as quelíceras e os pedipalpos. A maior parte das aranhas possuem oito olhos (família Salticidae), porém dois (Dysderidae), quatro (Tetrablemma) ou seis (Caponiidae) deles podem estar ausentes, e, em algumas aranhas de caverna, todos estão ausentes (p. ex. em Sinopoda scurion). Normalmente, os olhos estão dispostos em duas fileiras curvas (às vezes três fileiras), sendo então denominados olhos anteriores laterais, olhos medianos laterais, olhos posteriores laterais e olhos posteriores medianos. Os olhos podem ainda ocorrer agrupados numa elevação denominada cômoro ocular. A quantidade, tamanho dos olhos e os padrões de disposição dos mesmos são de grande importância na classificação sistemática das aranhas. A área entre a fileira anterior de olhos e o fim da carapaça é designada por clípeo.

   As quelíceras são os únicos apêndices à frente da boca dos quelicerados, já que não apresentam qualquer estrutura que possa funcionar directamente como maxilas. Estes apêndices nas aranhas têm duas secções distintas e terminam em presas, que normalmente incluem ductos capazes de libertar veneno, dobráveis para trás da parte superior quando não estão em uso. Ambos os lados das quelíceras são frequentemente armados com dentes cuticulares, usados pelas aranhas para macerar as suas presas. O número e a quantidade de dentes são indicadores usados na caracterização taxonómica. As quelíceras apresentam também outras funções em diferentes grupos de aranhas, como cavar buracos, carregar ovos ou transportar presas pequenas. Nalguns casos são ainda utilizados em rituais de acasalamento. Normalmente, os machos possuem quelíceras maiores do que as fêmeas. As quelíceras podem ser classificadas como "ortognatas", "labidognatas" ou "plagiognatas". Ortognatas são quelíceras paralelas, que se movem somente no plano longitudinal, como a das caranguejeiras; as labdognatas são opostas, movendo-se no plano transversal; e as plagiognatas apresentam disposição intermédia.

  Os primeiros apêndices atrás da boca são designados por pedipalpos e têm diferentes funções dentro do grupo dos quelicerados, tendo grande importância na captura de presas. Os pedipalpos das aranhas são apêndices pequenos cujas bases atuam como uma extensão da boca. São semelhantes a pernas, porém não apresentam o segmento correspondente ao metatarso.

   Os pedipalpos podem apresentar algumas modificações importantes, nomeadamente nas aranhas do sexo masculino, que têm as últimas secções maiores que as das fêmeas para utilização na transferência de esperma. As coxas dos pedipalpos, denominadas enditos ou maxilas, são estruturas modificadas para participar do processo de trituração do alimento. As secções superiores costumam ter cerdas que filtram os pedaços sólidos do seu alimento, já que as aranhas apenas se podem alimentar de alimentos liquefeitos.

   As pernas das aranhas são constituídas de sete segmentos distintos. A parte mais próxima ao cefalotórax é a coxa, seguido pelo trocânterfémurpatelatíbia, metatarso e tarso, e terminam em duas ou três unhas dependendo da família. A unha do meio é importante para aranhas de teia, sendo usada para segurar os fios de seda, sendo a única unha a tocar na teia. Geralmente, as pernas frontais (pares 1 e 2) são longas e o primeiro par de pernas é usado para explorar o ambiente. Essa capacidade sensorial das pernas é devido a presença de pêlos que cobrem densamente os segmentos distais.

Muitas aranhas caçadoras possuem densos tufos de pêlos nas pontas das pernas abaixo das unhas, denominados escópula. A escópula é essencial para que as aranhas possam andar sobre superfícies verticais lisas, como o vidro de uma janela, permitindo às aranhas a explorar uma maior variedade de ambientes. Apesar da maioria dos artrópodes usarem músculos para flexionar as pernas, as aranhas usam pressão hidráulica para as estender, uma herança dos ancestrais pré-artrópodes. Como resultado , as aranhas com o cefalotórax perfurado não podem estender as pernas e as pernas de uma aranha morta enrolam-se.

   O abdómen é mole e oval e não apresenta qualquer sinal de segmentação, excepto na subordem Mesothelae, cuja única família viva, Liphistiidae, tem placas segmentadas na superfície superior.

   As teias são constituídas por fios de seda de aranha, um material cinco vezes mais fortes do que um fio de aço do mesmo diâmetro. Além disso, a teia pode ainda ser esticada até mais de quatro vezes o seu comprimento inicial e resistir à água e a temperaturas até -45 °C sem rotura. No abdómen há apêndices modificados em fieiras que libertam seda por até seis glândulas sericígenas (glândulas produtoras de seda).

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